quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Cristovam Buarque em Imperatriz?

Cristovam Buarque era o chamado candidato de uma nota só nas últimas eleições presidenciais. A nota de Buarque era a educação. Nas entrevistas durante a campanha o candidato chegou a ser motivo de piada pela insistência em hastear essa bandeira. No fim, Lula foi reeleito com alguns corpos de vantagem sobre Cristovam, que nem chegou perto do segundo turno.

A campanha de Cristovam me veio à mente essa semana em duas situações muito relevantes para a educação em Imperatriz. Os casos estão situados nos dois extremos do processo educacional: educação básica e ensino superior. Em ambos casos o caráter de libertação da educação é puramente ignorado e substituído pela ânsia econômica, pelo desejo de poder e pelo jogo político.

Durante essa semana ocorreu a demissão em massa de professores do curso de Enfermagem na Faculdade de Imperatriz. O motivo: baixa nos salários. Quem estuda na Facimp – quem realmente estuda na Facimp – compreende que a instituição ainda não adquiriu a visão acadêmica necessária para se trabalhar com educação em nível superior. As campanhas comunitárias são relevantes apesar de terem um valor institucional puramente publicitário. A pesquisa não é realizada e sequer motivada, salvo por professores que insistem em nadar contra a corrente da ignorância. Para se trabalhar com educação é necessário paixão; não aquela paixão de cunho pecuniário característica de grandes investidores econômicos que implantam na sociedade a necessidade de “matar” seu oponente no mercado financeiro.

Na próxima semana ocorrerá uma auditoria nos recursos destinados à educação básica no município, o FUNDEB. O Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino de Imperatriz (STEEI) alega que o percentual previsto em lei – 60 por cento, de um montante total de mais ou menos 30 milhões de reais fora outros 5 milhões vindos de recursos próprios – não foi repassado de forma correta. Isso não obstante as contas terem sido já aprovadas pelo conselho criado para a fiscalização desse recurso; conselho esse composto por representantes de diversos seguimentos interessados, inclusive do próprio STEEI. Eu estive pessoalmente no STEEI há quase dez anos atrás – na época consistentemente engajado no movimento estudantil - e hoje me espanta a baixa rotatividade na direção sindical, uma vez que a rotatividade é sinal claro de um movimento democrático nas bases sociais. No mínimo deveríamos desconfiar de uma pantomima trabalhista em prol de uma classe enquanto o que ocorre é um jogo duríssimo de poder e interesses políticos.

A semana não foi de todo ruim. Junto com todas essas notícias a mais interessante recebeu a devida atenção da mídia em entrevista do secretário municipal de educação. Infelizmente não foram mais que quinze segundos a divulgação da adoção de um sistema de ensino qualificado e integrado para a esfera municipal. A iniciativa é louvável e só esperamos que evolua. Compreendemos que pacotes teóricos prontos podem não surtir efeito em situações sociais diversas o que se faz necessário a adaptação desse sistema para a realidade crua imperatrizense.

O candidato de uma nota só estava certo? E se estava por que não foi eleito? Implodir um sistema que se baseia em políticas de influência, como os exemplos citados acima, não é tão simples assim. Muitos não votaram em Alckmin pela forma agressiva com que atacou Lula no debate da Globo. Muitos não votaram em Lula por causa da campanha maçante da Globo contra as pretensões petistas de gestão – pretensões essas maléficas ou benéficas, a essa altura da corrida presidencial perde-se o pudor. E a grande maioria que votou não consegue responder, hoje, o porquê do seu voto; eles não foram educados para isso. Mais um ano eleitoral se inicia; e seria ótimo termos pelo menos uma opção parecida com Cristovam para a cadeira do executivo municipal. Alguém para perder feio falando em educação, lançando semente nas pedras.


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