segunda-feira, 22 de junho de 2009

Um rosto e a face da morte


A morte choca o ser humano, ao menos o ser humano normal. Neda Agha Soltan, a bela jovem de 26 anos que aparece com um sorriso simples e cativante na foto acima publicada pelas agências de notícias no mundo inteiro e fornecida pela correspondência Iraniana da Imprensa popular de dentro do país; morreu. Sua vida se foi depois de ser atingida por um tiro no tórax durante uma manifestação contra o resultado das eleições no seu país. O governo iraniano impede o trabalho da Imprensa internacional, o que é normal em um país onde a democracia, mesmo uma democracia falseada, está longe de ser realidade.
Mas as turbulências trazem os anônimos, Neda não mais morrerá. A imagem forte de seu corpo estendido, seu sangue escorrendo e seus olhos assustados buscando a vida enquanto seus familiares e amigos em desespero tentavam, em vão, socorrê-la, ficará. Essa imagem de Neda jovial, sorridente se tornará uma bandeira. Mais adiante nascerão milhares de Neda pelo mundo umas com o mesmo nome, outras que só terão em comum com a que morreu apenas a repressão machista aliada a uma idéia religiosa idiota, retardada e opressiva.
Antes que digam que estou tentando ficar acima do sagrado dos outros, confesso que apenas me sinto plenamente nivelado com a idéia do bem, e que o caminho para a paz deve fazer um viaduto por cima da estrada esburacada e sangrenta da religião, seja ela qual for. O islã não é um culto menos violento que o cristão, é apenas o foco que muda. O cristianismo superou a fase da guerra santa com o fim da idade média. O islã ainda dá cabo da vida de pessoas em nome de uma idéia ou ser extraterreno. O cristianismo hoje trata a coisa de uma maneira mais fina, ataca as fragilidades e conduz o ser humano indefeso - que geralmente está passando por dificuldades - para um rebanho de adoração em troca de uma vida farta aqui na terra, que normalmente não ocorre sem que se trabalhe bastante e não apenas se ore ou sinta a presença de Deus na sua vida, presença essa que desaparece assim que o medo se vai.
A bela Neda nasceu no Irã, país marcado pela repressão e violência religiosa, pelo machismo, pelo cerceamento do direito de pensar, agir ou viver. Nasceu em um mundo doente, agonizante. Morreu tentando uma breve mudança, uma que não resolverá o problema como todos nós sabemos, mas morreu tentando mudar.
Em certos momentos é preciso dizer não! Esse não vem para a religião, para a autoridade religiosa ou mesmo para Deus, quando qualquer deles tentar destruir o ser humano fisica ou mentalmente.

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