sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Diabo e o Professor de História

"Enquanto Freud
Explica as coisas
O diabo fica dando toque..."
 
(Raul Seixas)
 
 

 
O que você faria caro leitor, se fosse convidado para uma reunião com o Senhor Todo Poderoso do Mal; aquele que com o seu ódio assola o ocidente desde tempos imemoriais, aquele que caiu do céu, o filho da manhã, o chifrudo, o capeta, o cão? O que faria você diante dele? Bem, uma pergunta como essa só pode ser respondida com sinceridade por uma pessoa religiosa, aliás, bastante religiosa pois, quem não o é não conseguirá imaginar, realizar, um encontro como esse. Existe também outra alternativa a interpretação, a de que essa pergunta seja feita a uma pessoa insana; nesse caso a crença seria mais contundente, creio eu.
Um grande combatente, docente em nossa cidade, foi convidado a se reunir com o "coisa ruim" para mandar um recado. Ora, com o embasamento histórico massivo que tem, o professor rapidamente percebeu que não seria possível passar o recado ao Pazuzu pelo fato - filosófico - do diabo ser uma representação, apenas. A filosofia não combate o sagrado de ninguém, se o fizesse deveria mudar de nome no mesmo instante. Mas a crítica, para ela, é inevitável, é o oxigênio nos pulmões filosóficos, sem a crítica se morre. E a religião não está no rol dos não criticáveis, simplesmente por que esse rol não existe.
Existe uma coisa similar a religião que talvez até seja seu antepassado que viveu um tempo nobre e hoje amarga as vacas magras em uma categoria menos prestigiada; essa coisa é o folclore. Esse fator é um dos mais prováveis pais da religião atual. Quando se manda alguém para o inferno, quando se xinga ou se fala em céu, no âmago daquelas palavras existe uma cultura de povos mesclada desde muito cedo e enraizada a tal ponto que a ofensa é inevitável, mesmo sem que ninguém saiba onde é o inferno ou como é que se sairia por lá em uma eventual visita - para dar um recado, por exemplo.
Quando há uma união entre religião, folclore e nem sequer uma grama de respeito para com a imagem de ambos, surge a cena que o professor viu na praça. Uma figura folclórica no que talvez seja um último lampejo de uma tentativa há muito frustrata de se ter dignidade a todo custo. Mesmo através de um custo alto, mesmo que para ter dignidade seja preciso pregar uma garoupa numa caixa vazia.
 
 
P.S. : Professor, se mesmo assim resolver ir a reunião com o Tranca-rua, agradeça-o pelo Rock ´n Roll.
 

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